Sunday, September 26, 2010

O que define o Power Metal?

Definir exatamente quando nasceu o Power Metal é difícil. A verdade é que muitas bandas de Heavy Metal tradicional já apresentavam várias características do estilo. Bandas como Iron Maiden, Judas Priest e Saxon, mesmo nunca tendo pertencido a alguma cena do gênero, foram altamente influentes para ele. Provavelmente o primeiro grupo a mudar seu som para algo mais próximo do estilo foi o Jag Panzer, com o lançamento de seu álbum de estréia em 1984, Ample Destruction. O trabalho dos americanos, porém, ficou por muito tempo no meio underground, sem ter recebido grande divulgação, e foi lançado por uma pequena gravadora independente. A banda em si, também, não foi muito influente na formação do estilo, já que logo após o lançamento do CD tiveram problemas com sua line-up e só viriam a lançar um novo trabalho em 1994.

Foi no outro lado do oceano Atlântico, na Europa, que o Power Metal começou a desenvolver-se no que conhecemos hoje em dia. Lá surgiram as principais bandas do estilo, que alcançaram grande fama e popularidade. A banda inglesa Grave Digger já apresentava uma sonoridade bem voltada ao que viria a ser o Power Metal desde seu primeiro lançamento, Heavy Metal Breakdown, de 1984. Os ingleses, porém, ainda eram bem enraizados no metal tradicional. Outra banda européia que também já mostrava um som mais próximo do Power era o Helloween, da Alemanha. Seu primeiro disco, Walls of Jericho, é considerados o primeiro álbum genuinamente do gênero.

Os dois grupos fizeram tours juntas em 86, ao lado da banda de Black/Thrash Celtic Frost. Enquanto o Grave Digger iria sair de atividade e só retornaria anos depois, o Helloween lançaria o álbum que o consagraria como “pai” do Power Metal: The Keeper of the Seven Keys Part I. Ele e sua seqüência foram provavelmente os discos mais influentes para o estilo.

Características Sonoras
De maneira geral, o Power Metal pode ser caracterizado por duas coisas: Primeiro, a palhetada rápida, tanto da guitarra quanto do baixo, mas com passagem de acordes mais lenta do que no Thrash Metal, o que cria tempos harmônicos maiores, tornando as músicas mais “melódicas”. Segundo, pelas melodias mais focadas nos vocais, que são quase sempre limpos ou líricos, com grande alcance de notas altas, seguindo a tradição de vocalistas como Ronnie James Dio, Rob Halford, Bruce Dickinson e Michael Kiske. Seguindo estas duas características, os estilo pode ser dividido em três “vertentes” mais comuns.

A primeira, criada pelo Helloween, seria o Power Metal “clássico”, sem muitos experimentalismos, mantendo-se fiéis à fórmula citada acima. A falta de experimentalismos, porém, acaba tornando as bandas meio previsíveis. Com o passar dos anos, é difícil notar algum destaque inovador fora o próprio Helloween. A única exceção fica para o Gamma Ray, que lançou em 1995 o altamente influente disco Land of the Free.

A segunda vertente foi criada pela banda finlandesa Stratovarius. Ela pegou a sonoridade criada pelo Helloween e introduziu novos elementos, como o uso de teclados, influências neo-clássicas e progressivas. Outra banda influente nesta direção foi a italiana Rhapsody of Fire, uma das primeiras a inserir elementos sinfônicos e de orquestra em seus trabalhos. Isto fez com que a mídia considerasse as bandas do gênero mais “melódicas”, e inclusive as classificasse como “Melodic Metal” ou “Melodic Power Metal”. Assim como no Power tradicional, as bandas do estilo tendem a ser um tanto previsíveis, já que são poucas aquelas que fogem do conceito criado pelo Stratovarius. Talvez os maiores destaques sejam a finlandesa Nightwish, que popularizou vocais líricos femininos no Power, e a brasileira Angra, que com o decorrer da carreira fez uma abrangente mistura de Power Metal, elementos neoclássicos e ritmos brasileiros - principalmente a MPB.

A terceira vertente do gênero foi criada pela alemã Blind Guardian, com ajuda da americana Iced Earth. Estas duas bandas foram uma das primeiras a misturar Power Metal com influências de Thrash Metal, dando mais velocidade e agressividade ao gênero. Muitas bandas que fazem esta mistura chegam a serem chamadas de Power/Thrash, como o próprio Iced Earth, por mesclar características das duas cenas muito bem. Certos grupos até usam blast beats (Morgana Lefay), e o vocal lírico, limpo e majoritariamente tenor deixou de ser lei.

Apesar de estas serem as três direções mais comuns, evidentemente há bandas que não se encaixam em nenhuma delas. Por exemplo, a banda japonesa X Japan, que tinha em seu som inúmeras influências, do Glam Rock ao Prog. Ou ainda o movimento Power/Folk, que mesmo tendo pouco ou quase nada de Folk, dá novos ares ao Power com a introdução de novos timbres. São raras as vezes, porém, que algo realmente novo aparece no gênero, principalmente por ele ser muito comercialmente viável e ter caído no gosto do mainstream, o que faz com que experimentalismos não sejam incentivados.

Temáticas
Um mito muito comum em relação ao Power Metal é de que ele é sempre relacionado a temas mitológicos ou imaginários. De fato, temáticas fantasiosas são bastante comuns na cena. Bandas pioneiras do gênero, como Helloween, Gamma Ray, Iced Earth e Blind Guardian popularizaram os temas fantásticos (esta última, em especial, a fantasia tolkieniana).

Alguns dizem que no Power as líricas sempre falam de temas “épicos”, por isso as letras fantasiosas são mais comuns. Tal definição, porém, é muito vaga. O que seria ou não épico, afinal? Será que apenas temas fantásticos merecem tal classificação? Seriam, por exemplo, batalhas da vida real menos épicas do que as imaginárias?

Os temas fantásticos, apesar de recorrentes, não são obrigatórios, muito menos exclusivos do Power Metal. Diga-se de passagem, muitas bandas de Heavy tradicional, Thrash e até Black também usam da fantasia em suas letras.

Há bandas do gênero que usam dos mais variados temas: vida (Angra), amor (Nightwish), relacionamentos (Sonata Arctica), ocultismo (Morgana Lefay), guerras reais (Sabaton), religião (Theocracy), dentre muitos outros. No entanto, é notável a predominância do imaginário e irreal até mesmo nas bandas que abordam outros assuntos.

Bandas que falam sobre política, ao contrário de em outros estilos de Metal, são raros na cena, porém não inexistentes. A maior parte mesclam são grupos que mesclam Power com Thrash. Exemplos de bandas assim: Full Strike, Horcas.

Diferenças
Uma das coisas que as pessoas normalmente percebem é como o estilo possui uma diferenciação de acordo com a região. Mais que os outros estilos, o power metal carrega ainda mais as características do país de onde se originou a banda. Porém, é preciso não exagerar neste conceito; muitas vezes bandas de origens diferentes podem compartilhar mais semelhanças do que duas bandas de uma mesma região.

Power Metal Norte-Americano
O estilo norte-americano é fortemente calcado no metal tradicional e na velocidade. Solos rápidos, vocais extremamente pomposos e leve apelo a música erudita. É possível notar nessas bandas um apelo machista muito forte. Em termos de instrumental, há sempre uma valorização da guitarra e dos vocais, deixando os outros instrumentos apenas como “plano de fundo’, como é possível perceber em bandas como Jag Panzer e Manowar.

Power Metal Europeu
A escola européia de heavy metal tem uma forte tendência de música erudita. Tradicionalmente, as bandas tendem a ser mais técnicas e com linhas mais melódicas que sua contraparte americana. O teclado começa a ganhar destaque, sendo, em muitas bandas, um dos elementos mais preponderantes, como é notado no Nightwish. Incorpora-se elementos de outras sonoridades, como a música folclórica. Isso se nota em bandas como Elvenking e Mago de Oz.

Power Metal Japonês
A grande diferença entre os japoneses é o apelo ao Hard Rock e ao progressivo. Há nas bandas do oriente um chamativo Glam Hard, que remete ao visual anos 80 de grupos como Bon Jovi, Poison, Mötley Crue etc e a sonoridades de bandas como Deep Purple, Malmmsteen, Van Halen, entre outras. Com isso sua sonoridade tende a ser mais simples inicialmente e, gradativamente, uma elevação da técnica, sem apelar tanto para a rapidez dos riffs. Bandas como X Japan, Girugamesh, Galreynus, 44 Magnun, Concerto Moon, Eizo Sakamoto, entre outras, mostram uma veia menos erudita e menos pomposa e mais próxima das raízes hard e prog do metal.

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