Em praticamente todas as culturas, a música tem presença relevante numa grande diversidade de contextos, a partir dos quais podemos avaliar seu papel enquanto expressão pessoal, arte, entretenimento, profissão, função ritual, religiosa, ambiente, meio de comunicação ou relaxamento, conexão com outras linguagens como a dança e o cinema, passaporte para “tribos” locais, urbanas, regionais ou nacionais, trampolim para egos ou ascensão social, etc.
No Brasil, a música vem sendo cada vez mais utilizada também como atividade de apoio a inúmeros projetos de formação e inclusão social, contribuindo para a diminuição das desigualdades que tanto nos envergonham.
Mas, apesar do valor que isso representa, não se pode aceitar que esse modo de presença, em que a aprendizagem musical costuma se dar apenas por imitação ou reprodução, seja justificativa para a ausência da música como conhecimento específico no projeto curricular das escolas brasileiras.
A música, quando aprendida e utilizada como linguagem, oferece aos alunos o acesso a uma educação para a vida que inclui o desenvolvimento da sensibilidade a partir da aquisição de um vasto vocabulário de efeitos de sentido associados a configurações musicais detalhadas e precisas, num processo de construção de conhecimento que integra os dois recursos que o homem dispõe para isso: pensamento e sentimento. Música como linguagem não é algo apenas para quem busca formação profissional, não depende de talento ou dom e está ao alcance de todos.
De fato, quando assumida como linguagem que incorpora os fundamentos que a tornam arte, a música nos permite integrar competências lingüísticas, corporais, espaciais, de raciocínio lógico, percepção de si próprio e percepção do outro, além das musicais. Nenhuma outra disciplina do currículo da escola brasileira oferece tal possibilidade de integração entre conhecimentos – algo vital para a formação de indivíduos capazes de perceber mais profundamente o mundo em que vivem e de usar com sensibilidade e sabedoria os conhecimentos adquiridos ao longo de toda a sua formação.
Para tanto, o ensino da música precisa incluir como conteúdos os processos de composição, interpretação, improvisação, apreciação e reflexão sobre música, sempre com ênfase na percepção que integra compreensão e impressão.
é necessário também ensinar o aluno a superar todos os rótulos que hoje compartimentam a música em nichos de consumo e ajuda-lo a construir conhecimento a partir das relações entre idiomas musicais. A oposição entre música erudita e música popular, que no passado já foi a grande questão da educação musical, há muito deixou de fazer sentido. Aliás, Koellreutter já dizia: “Não existe música erudita; o que existe é músico erudito” (que deve fazer com a sua erudição a música que bem entender). Hoje, o grande desafio da educação musical nesse mundo de “clics”, duplos clics, sites de busca, hipertextos, multicanais e outros meios de acesso simultâneo a uma imensa quantidade de informação, é fazer com que o aluno aprenda a valorizar o conhecimento que ele pode construir não simplesmente a partir das informações, mas das relações que puder estabelecer entre elas.
A inclusão da música na educação brasileira exigirá vontade política, planejamento e ação do governo e de toda a sociedade; e precisará considerar as leis e parâmetros educacionais publicados na última década.
Conforme diagrama apresentado na videoconferência dos GTs de Formação Musical, realizada no primeiro semestre de 2005, propomos o investimento em um amplo Programa Nacional de Educação Musical, prevendo:
A criação de um projeto nacional de ensino médio profissionalizante de música referenciado na música como linguagem;
A criação de um grande número de outros projetos locais, regionais e nacionais, referenciados nesse projeto principal;
Será muito? Em uma pesquisa realizada em 2005, os brasileiros elegeram a música
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