Sunday, September 26, 2010

Neofolk - O Lado Sombrio Da Música Folk

Talvez um dos estilos mais férteis que surgiram dentro da cena darkwave, o neofolk é algo que surpreende. Seja pela riqueza rítmica, seja pela inovação em colocar música regional mesclada a um som moderno, mais cosmopolita. Não importa, o importante é que o estilo é versátil, inteligente e, acima de tudo, inovador em suas raízes e concepções.


Origens


Uma possível origem a esse estilo reside nos anos 80, na Inglaterra. O pai desse estilo seria o projeto de Douglas Pearce, o Death In June. Em 1983 começou com alguns experimentos usando instrumentos acústicos e percussão para recriar o som de tradição folclórica da Inglaterra, misturado com batidas eletrônicas e sons post-industriais. Esse álbum se chama The Guilty Have No Pride e foi gravado em colaboração com Patrick Leagas e Tony Wakeford, que mais tarde sairia para montar o Sol Invictus. Essa saída se deu, em principio, por divergências com o líder do Death In June, porém, no final dos anos 80 eles restabelecem contato e continuam como amigos até hoje.

O Death In June sozinho nao fez o neofolk. David Tibet, fundador do projeto Current 93, em 1982, é introduzido nos meios esotéricos, místicos e sobrenaturais por Pearce. Ele passou a freqüentar esses círculos, coisa que influenciou e muito nas suas composições musicais, que se baseavam em poesia, magia, thelema, satanismo e hermetismo. Isso afetou demais o som que o Current 93 fazia, que era calcado no industrial e passou a abordar temas folclóricos.

A banda de Wakeford também seria um dos pais do estilo. O Sol Invictus passaria a experimentar a sonoridade folclórica com guitarras, rock progressivo, post-industrial e, mais tarde, sonoridades típicas do movimento neoclássico, que procurava dar uma reavivada na música erudita, dando contornos mais modernos.


SONORIDADE


Uma coisa que o neofolk se diferencia das bandas de folk tradicionais são os elementos de música experimental. Muito embora a origem seja a mesma, o resgate da sonoridade regional tradicional, o movimento difere na sonoridade. Enquanto grupos de música folclórica resgatam a música da forma como ela era executada, o neofolk a usa como pano de fundo para misturar a ritmos modernos, experimentais, eletrônicos e, depois de um certo ponto, até mesmo do darkwave. Há em vários momentos um flerte com o ethereal, como acontece em grupos como o Faun. Contudo, a grande diferenciação do ethereal reside na própria sonoridade, sendo este de um tom mais atmosférico e sublimado.

Há o uso de instrumentos típicos da Europa, em alguns casos até mesmo da cultura medieval. Nisso há uma grande pesquisa, seja ela em termos musicais, seja em termos de estrutura de composição ou mesmo a leitura de partituras. O som, muito embora de concepções simples, pode flertar com o neoclássico e até mesmo com ritmos mais darkwave, mas isso não é via de regra. O grande quesito do neofolk é resgatar a cultura através do experimentalismo e das tentativas.


TEMÁTICA


Os temas do neofolk se pautam basicamente na mitologia, nas crenças populares, no ocultismo, na filosofia, na literatura e em temas que resgatem a ancestralidade, como as runas, por exemplo.

Isso faz com que não exista uma temática padrão para os grupos de neofolk. Tanto que é possível um grupo falar em uma letra sobre o Lord Byron e outro falar sobre os vikings, sem nenhum problema. A idéia é sempre mostrar uma faceta do que seu povo fez e produziu, seja em termos históricos, literários, filosóficos ou mesmo militares.

Isso fez com que, por muito tempo, alguns grupos fossem taxados de nazistas. A bem da verdade, o que aconteceu primeiro foi o fato destes terem se valido de poetas, compositores e filósofos de maneira muito distorcida. Símbolos de poder e de status foram, por muito tempo, usados por Hittler para enaltecer a grandeza alemã. E por usarem das mesmas temáticas que os grupos de neofolk foram taxados injustamente de nazistas.


LIGAÇÃO COM O DARKWAVE


Aparentemente o neofolk tem pouco a ver com esse movimento. Mas olhando bem de perto podemos enxergar algumas semelhanças e até mesmo uma estreita ligação com ele.

O Death In June nasceu das cinzas de um grupo inglês de punk, o Crisis. Esse grupo tinha um direcionamento político muito forte, sobretudo contra as desigualdades raciais e contra o neo-nazismo. Possuía um bom nome na cena inglesa, que nessa época estava de mal a pior. Com a dissolução do grupo, a banda passaria a incorporar a então nascente cena darkwave, onde o lance era experimentar. Vale a pena lembrar que o nome darkwave surgiu bem depois e está colocado aqui apenas para fins de explicação.

Com isso, ao procurarem ritmos para experimentarem, inevitavelmente cairiam em ritmos como o post-punk, que nasceu também do experimentalismo com a música eletrônica, além do ethereal, por ter algumas temáticas em comum, como vista na banda Ordo Rosario Equilibrium.


PAIS DO FOLK METAL?


É possível dizer que o folk metal está dentro de um contexto neofolk. Não deixa de ser um experimentalismo da música regional com um ritmo moderno, no caso, o heavy metal em qualquer uma de suas vertentes. Contudo, suas semelhanças morrem por aí.

É possível notar uma nítida influência de Sol Invictus na sonoridade do Skyclad, até mesmo pelo fato de ambas as bandas flertarem com o folk rock e usarem violinos. Assim como também tanto a vertente folk metal como o estilo neofolk possuem as suas raízes na Inglaterra, o que tornar ambos os movimentos bem próximos.

Entretanto, o folk metal carece de todo o experimentalismo e todo o resgate do contexto folclórico do neofolk. O folk aqui serve apenas como um “tempero” ao som, moldado para um público não acostumado a algo tão hermético e complexo, cheio de simbologias e referências. Tanto que, salvo raros casos, o nome folk metal serve mais como uma propaganda a um tipo de consumidor passivo, que sequer está preocupado se aquilo que escuta é ou não relacionado com a música folclórica.

Claro que exceções existem. O Skyclad começou e continua arraigado no folk, carecendo de popularidade na Europa por conta disso. O pessoal do Fjed reúne músicos de música folclórica e distribui seu som de forma não-comercial, ou seja, por downloads e quase que não podem ser chamados de uma banda de metal propriamente dita. Até mesmo o Vintersorg teve seus momentos de resgate de sonoridades de música regional com seu projeto, o Otyg, que possui um som mais voltado a dança, como é costume da música escandinava de tradição popular.


NEOFOLK NO BRASIL EXISTE?


Se analisarmos em termos de contexto sonoro-musical, a resposta é não. De todas as correntes que vierem da Europa, o neofolk nunca atraiu muita gente e o brasileiro meio que tem vergonha de sua própria cultura. Tanto é verdade que raramente você vai encontrar algum trabalho de darkwave nacional que se valesse de alguma coisa nossa, de ideais e símbolos nacionais.

Mas vamos pensar um pouco, será mesmo que isso é uma verdade? Uma vez que o neofolk não passa de, no final das contas, de música regional acrescida de alguma coisa de música moderna, não seria ele mesmo aquilo que se ouve em artistas como Nação Zumbi e Zeca Baleiro? Ou mesmo em grupos que resgatem a raiz da música nacional, seja ela de que origem for, e mescla com coisas como música eletrônica? Não seria nosso Manguebeat uma forma de neofolk?

Seria possível sim, exceto, talvez, pelo direcionamento. As temáticas sonoras do neofolk tendem a algo mais sombrio, mais introspectivo, mais sinistro, enquanto a temática desses grupos busca algo mais alegre.


GRUPOS DE NEOFOLK


Hoje podemos considerar que o estilo consolidou muitas bandas boas com várias temáticas interessantes. A começar pelo próprio Death In June e seu som experimental. Temos também o Sol Invictus, que mostra uma mescla com o rock progressivo, que influenciaria mais tarde no folk metal. O Corvus Corax incorporaria a música medieval não-sacra a ritmos eletrônicos e com uma roupagem moderna, cheia de energia. O Faun seguiria por esse caminho, mesclando o uso de vários instrumentos acústicos e inusitados. O Qntal usaria de um experimentalismo eletrônico mais forte, sendo até mesmo um tanto quanto fora do estilo em alguns pontos e indo procurar referências no new age. O Ordo Rosario Equilíbrio e o Spiritual Front iriam para o ethereal e o post-industrial. Além disso podermos também encontrar mesclas com o neoclássico, com o darkwave e até mesmo com o dark ambient, que torna o estilo muito rico e muito bom para quem quer ouvir um som inteligente, diferente e que tenha algum propósito artístico.

Visuais Góticos

Talvez muitos não saibam, de fato, o que faz um visual ser gótico, ser dark ou apenas uma mera convenção de pessoas que querem dar uma de “trevosos”, por assim dizer. É complicado, principalmente com a difusão dos pseudovisuais góticos por grupos como o Evanescence e a falta de conhecimento da grande mídia, que divulga valores as quais não tem nenhum conhecimento prévio.

É dado que os visuais da cena gótica começaram sob influência do glam rock. O estilo prezava por um visual andrógino, onde ficaria impossível de determinar o sexo da pessoa. Tínhamos homens parecendo mulheres, usando maquiagem, com todo aquele glamour. O som era mais voltado ao rock e tinha um apelo mais visual, pois era mais importante mostrar alguma coisa mais “visível”, por assim dizer. Isso não significa que o som era menos importante, apenas não era o foco do visual. O som das bandas glam é algo mais cheio de energia e, em alguns casos, misturado com o hard rock. Os grandes nomes do glam rock são o David Bowie, T-Rex e The New York Dolls.

Esse visual tem um apelo muito mais futurista. Começou nos anos 70, na Inglaterra, berço de boa parte das modas musicais do mundo.E tudo começara apenas como uma piada contra os grandes nomes da cena musical, como o Yes. Era uma forma descontraída de ir contra o movimento hippie, muito em voga na época.
Toda essa irreverência e estilo foram passados ao gótico através de uma série de fenômenos musicais. Assim como aconteceu com o visual punk, todo colocado como um sinal de rebeldia contra o sistema, com seus cabelos espetados, coturnos e outros adereços. Esse visual, rebelde, cairia de moda com as bandas de post-punk, que dariam um ar mais sombrio aos rebeldes.

O Joy Division já prenunciaria alguma coisa do visual gótico. Talvez a banda de post-punk mais famosa, eles adotavam um certo visual “retrô”. Sobretudos, roupas mais sóbrias, junto com um ar triste e melancólico em seus sons ajudaram a dar um certo “charme” ao que viria, mais tarde, a se tornar um visual gótico. Isso não quer dizer que o visual e a banda sejam góticos. Nunca foram. Apenas que a idéia desse visual já é perceptível a partir desse ponto.

Os visuais góticos

É certo que a primeira banda a começar com a estética visual gótica foi a banda Bauhaus. Peter Murphy e os outros abusavam de um visual nitidamente inspirado no glam de David Bowie. Esse visual, sombrio, decadente, aliado a sua sonoridade mais introspectiva deram a banda a alcunha de gótica. Não é por menos que são dados como os inventores do gótico, com seus penteados e roupas que pareciam antiquadas, indo contra o ideal moderno que se tinha na época.

O The Cure também ajudaria na concepção visual do gótico. Robert Smith usava de roupas escuras, sobretudos, coturnos e penteados inspirados na moda punk. Certamente o seu som melancólico atraia muitos jovens, o que fez com que eles também adotassem esse visual mais denso e carregado. Tanto que esse visual é usado como referência entre quase todas as bandas e fãs do estilo gótico. Mais tarde, cansado disso, o The Cure voltaria seu som a algo mais pop e seu visual em algo mais alegre e feliz.

Siouxsie and the Banshees criou, sob a figura de sua vocalista, boa parte do visual dark que viria a ser incorporado na cena gótica. Maquiagem pesada, roupas fetichistas e performances que influenciaram muita gente ao longo dos anos 80 em diante. Se tem hoje a banda como influente até mesmo em bandas não-góticas. Scarlet, vocalista da banda italiana Theatres des Vampires mostra, em seu visual, claras referências a Sioux Siouxsie, mesmo em sua fase mais black metal.

A moda, gótica, contudo, só ganharia esse estado graças a um clube londrino, a Batcave. Seu foco era a new wave e o glam rock. Com o tempo, passou a incorporar o gothic rock como foco principal de suas atividades musicais. Pessoas como Robert Smith, Siouxsie Sioux, Steve Severin, Foetus, Marc Almond, Nick Cave e Danielle Dax eram freqüentadores desse clube. Por conta disso que a moda dark começou a ser incorporada a uma nascente cena gótica. Movimentos como o gothic rock, dark cabaret e deathrock ganharam força com o advento da batcave. Nela começaram também os experimentos com música eletrônica, visível em boa parte das bandas de darkwave.

Moda gótica versus moda metal

Muitas vezes as pessoas confundem um visual gótico com apenas “se vestir de preto” e ter um “visual trevoso”. E vamos a algumas constatações.

São poucas as bandas de gothic metal que usam ou já usaram algum visual mais glam ou mesmo gótico. Em geral as bandas de metal usam preto como cor principal. Quase nunca diferem desse tipo de coisa, usando roupas comuns, penteados comuns, apenas com uma aparência um pouco mais sombria. Mas nada que tenha alguma importância na concepção visual do seu estilo.

Isso se deve as heranças hard rock do metal. Bandas como Black Sabbath já adotavam um visual mais parecido com o que se vê hoje. Mesmo sem ser algo exagerado, essa concepção foi levada adiante.

Temos os visuais masculinos altamente agressivos. O uso despikes, corpse paint, cabelos compridos desgrenhados, rapazes geralmente fortes, roupas de couro, cintos com balas de armas. Jaquetas de couro com rebites. Expressões e gestos que expressem poder, atitude, força. Replicas de armas, em estilo medieval. Roupas que expressem o fator violento do som. Os visuais femininos tendem a parecer algo mais vulgar, com roupas mais juntas ao corpo, vestidos com aquele ar mais “antiquado”, pouca maquiagem. Cabelos sempre perfeitos, sedosos, compridos.

Já no visual gótico, há uma tendência mais glam, mais feminina. As roupas, por mais sombrias que sejam, nem sempre são pretas ou trazem aquele ar carregado e agressivo. Os homens tendem a usar sobretudos, capas, roupas femininas, maquiagem, penteados diversos. As mulheres possuem um apelo mais sensual e mais provocativo, usando menos da vulgaridade para compor seu estilo. Há o uso intenso de maquiagens, sombras e outros apetrechos. Muito embora seja uma forma mais exagerada de conceber um visual, o gótico não se torna agressivo. Ele deixa transparecer um sentimento mais nostálgico e menos “heróico”.

Isso acontece por conta dos valores. O heavy metal carrega valores altamente masculinos, que são a força, a conquista, a brutalidade, o machismo. Já o gótico, por herança do glam rock, traz no seu visual uma estética feminina, que se preocupa com detalhes, com as sutilezas e com a beleza. Esses são trabalhados, há todo um cuidado com o significado do visual atrelado ao som que tocam, coisa que passa desapercebida pelo metal.


A seguir, exemplos de visuais góticos:

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Agora, os não góticos:

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Mas não é possível o metal ser gótico?

Algumas bandas do dito gothic metal se valem, vez por outra, do visual gótico ou glam. Um grande exemplo é o Entwine. É nítido que seu visual possui fortes bases de glam rock, tanto que o vocalista possui um certo ar “feminino”, coisa que faz com que muitas vezes sejam aceitos pelo meio gótico. Os finlandeses do Reflexion possuem um certo ar de glam em seu visual. Tocam um misto de gothic metal com gothic rock, fazendo um som moderno, assim como seu visual.
Os italianos do Theatres des Vampires possuem um ar gótico em seu visual. Muito embora ainda esteja atrelado ao vulgarismo e ao machismo preconizado dentro da cena metal, há uma forte tendência gótica nele, sobretudo na figura de sua vocalista, Scarlet.

Por isso, tomem cuidado ao achar que qualquer roupa preta e um ankh é gótico.

Os góticos diferentes

As pessoas podem imaginar que o gótico pertente a somente um estereotipo. Que é aquela coisa sombria, com visual antiquado e retrô. Isso está bem longe da verdade, tanto em termos de cena como em termos de concepção visual.
Evidentemente que os próprios góticos não se preocupam em saber em qual visual se encaixam. Esse visual entra automaticamente, independentemente dele querer “escolher” ou não. As pessoas também adotam mais de um visual, muitas vezes mais situacional também, quando não mesclam dois ou mais visuais.
Abaixo serão mostrados os tipos de gótico mais comuns, com suas respectivas explicações.

Tradicional Goth/Darkwaver

O estilo mais comum e mais difundido. Veio da década de 80, com fortes traços do visual punk.
Eles costumam gostar de bandas mais tradicionais da cena, como Bauhaus, Sisters of Mercy, Clan of Xymox antigo. Seria, dentro do contexto darkwave, a ala “old school”. Em geral tendem a não considerar muito a existência do electrogoth ou não gostar muito daquela coisa de “ebm-industrial-synthpop” que muitas bandas acabam assumindo.
Visualmente remetem ao visual post-punk, com o uso de muito preto, maquiagem e penteados espetados, influenciados por toda a leva de bandas dos anos 80. Costumam também mesclar roupas de sado-masoquismo, roupas antigas (como sobretudos, capas e vestidos longos), coturnos, roupas de couro (como jaquetas) e jóias prateadas.

Deathrocker

O deathrock é a parte da música darkwave mais ligada ao punk. Por conta disso seus fãs mais ardorosos tendem a parecer punks, mas com uma roupagem mais sombria e sinistra.
Grandes nomes do estilo, com Christian Death, Specimen, Alien Sex Fiend são sempre ícones para esse tipo de fã. Bandas novas, como Bloody Dead and Sexy e Tragic Black
O visual deathrocker é punk. Roupas rasgadas, cabelos moicanos, brincos, coturnos e outras coisas do guarda-roupa punk. É muito fácil confundir um deathrocker com um punk, a primeira vista. Também possuem uma forte preferência por filmes de terror, sobretudo aqueles de baixa produção.
mostram que o estilo ainda vive e possui energia.

Rivethead

Esse grupo é composto por fãs de música industrial.

Os rivet, em geral, tendem a rejeitar a cena gótica, não gostando muito da sua associação com a mesma. Um número considerável deles sequer gosta de darkwave ou alguma coisa relacionada ao gótico propriamente dito.

Ouvem bandas como Wumpscunt e Skinny Puppy, que vêm da cena EBM ou grupos de metal industrial/rock industrial, como Nine Inch Nails e Rammstein. Há dentre eles o pessoal que curte o industrial mais cru e verdadeiro, com Terminal Choice e Throbbing Gristle.

Seu estilo visual se pauta em roupas com aspecto mais futurista, como sobretudos no estilo do filme Matrix e adereços militares/metalizados. Seus penteados tendem a refletir um estilo mais direto, reto, sem muitos detalhes. Dentro do seu visual adota vestimentas como uniformes, luvas, máscaras industriais etc.

Cybergoth

O cybergótico nasce dentro de uma cena eletrônica.

Suas roupas são bem diferentes das roupas do gótico tradicional, com cores fluorescentes, néon, misturados com alguma coisa escura. Seu vestiário usa e abusa de temáticas futuristas, pegando idéias até mesmo dos filmes de ficção cientifica.

As bandas proeminentes para esse tipo de gótico são da cena eletrônica. Muitos sequer ouvem alguma coisa próxima do darkwave, exceto talvez por uma banda ou outra. Ouvem muito EBM, Industrial, Synthpop, Futurepop, Noise. Bandas como Das Ich, Front 242, Assemblage 23, Android Lust etc.

Kinder Goth ou Baby Goth

São pessoas, em geral adolescentes, que estão descobrindo a cena. Muitas vezes discriminados pela pressão dos pais e dos colegas, acabam muitas vezes sendo chamados de paga-paus e coisas do tipo. Muitos góticos passam por esse estágio antes de entrarem de cabeça na cena. Em geral começam conhecendo uma banda ou outra e bandas que vendem como se fossem góticas. Em alguns casos começam também a curtir alguma coisa da cena electro, o que tende a gerar tipos ainda mais mistos futuramente.

A mídia costuma rotular esse tipo de gótico como o padrão para o gótico, o que é uma mentira enorme. Ouvem bandas com HIM e Marilyn Manson, que são bandas com uma orientação mais metal. Assim também acontece com Lacrimosa, que seria o mais próximo da cena que eles chegam nesse estágio.
As suas roupas tendem a mostrar um estilo mais voltado ao metal, que é menos extravagante e chamativo. Muitos góticos costumam se referir a essas pessoas como “wannabes”, pela sua postura e por acharem a si mesmos de góticos, mesmo sem pertencer a cena, de fato.

Victorian Goth

Esse tipo surgiu quando os góticos passaram a procurar referência no visual vitoriano. Inspirados em filmes e em livros de romances góticos, vestem roupas como vestidos longos e rendados, luvas, corsets, ternos, casacas, chapéus, bengalas e outros acessórios tipicamente vitorianos.

Não há um tipo de som predominante nesse tipo. Há uma preferência muito grande pelas bandas de gothic rock e darkwave no geral.

UberGoth

Os Uber são aqueles que produzem um visual nos mínimos detalhes. Vestem-se dos pés à cabeça, com muitos acessórios, roupas, maquiagem, tudo para mostrar que visual e estilo andam sempre de mãos dadas.

Em geral tendem a possuir o visual mais requintado e mais bem elaborado dentro da cena.

Medieval Goth

Esse tipo veio com o advento da música medieval dentro da cena darkwave e com a adoção do termo histórico do gótico.

Essas pessoas possuem um senso de história muito grande e adotam esse conhecimento no seu visual. Roupas simples, vestidos e pouca maquiagem fazem do estilo medieval uma faceta um tanto quanto “fora’ dos outros estilos. Procuram sempre por histórias do período medieval e renascentista. Em termos gerais têm por medieval algumas revisitações do estilo renascentista.

Costumam ouvir bandas que mesclem música medieval com algum ritmo folk e também grupos de ethereal/dreampop.
Bandas com Dead Can Dance, Enigma, Faith and the Muse, Qntal, Love Spirals Downwards. Lovespirals, Love is Colder Than Death etc.

Fetish Goth

Uma das tendências dentro da cena gótica é a moda fetichista. É sabido que essa moda já era bem grande na década de 80. E esse tipo é um desdobramento do que já e via nos clubes ingleses, como o batcave.

Em geral a temática abordada por esse tipo é sempre ligado ao sado-masoquismo.
Roupas de couro ou de vinil, correntes, algemas e tudo aquilo que se pode imaginar dentro desse tema. Sonoramente tendem a gostar de algo mais eletrônico, como Depeche Mode. Esse estilo está mais ligado a um comportamento sexual do que um comportamento musical propriamente dito. Esse estilo também abusa do nível de sensualidade, muitas vezes até mesmo provocante.


Evidentemente que existem outros tipos, como o Vampire GothGoth Corp (que são pessoas que usam um ou outro detalhe da moda gótica mesclada a roupas sociais), o Geek Goth (que é aquele mais voltado a temas literários e filosóficos), entre muitos outros.

Nem todos os tipos são exatamente como descritos aqui. Esses padrões costumam aparecer mesclados ou mesmo reinventados, embora com certas restrições (um estilo futurista dificilmente vai se misturar com um medieval, por exemplo). etc.
(que é uma versão do Victorian ligado ao tema do vampirismo), o
Referências

http://www.blackwaterfall.com/
Site muito legal, com diversos tipos de góticos, ilustrados pela Megan. Vale uma olhada.
http://www.urbandictionary.com/
Tem termos muito legais ligados a cultura urbana.
www.scathe-demon.uk
Tudo sobre a subcultura gótica.
www.vampirefreaks.com
Bom site com várias bandas góticas.

O que define o Power Metal?

Definir exatamente quando nasceu o Power Metal é difícil. A verdade é que muitas bandas de Heavy Metal tradicional já apresentavam várias características do estilo. Bandas como Iron Maiden, Judas Priest e Saxon, mesmo nunca tendo pertencido a alguma cena do gênero, foram altamente influentes para ele. Provavelmente o primeiro grupo a mudar seu som para algo mais próximo do estilo foi o Jag Panzer, com o lançamento de seu álbum de estréia em 1984, Ample Destruction. O trabalho dos americanos, porém, ficou por muito tempo no meio underground, sem ter recebido grande divulgação, e foi lançado por uma pequena gravadora independente. A banda em si, também, não foi muito influente na formação do estilo, já que logo após o lançamento do CD tiveram problemas com sua line-up e só viriam a lançar um novo trabalho em 1994.

Foi no outro lado do oceano Atlântico, na Europa, que o Power Metal começou a desenvolver-se no que conhecemos hoje em dia. Lá surgiram as principais bandas do estilo, que alcançaram grande fama e popularidade. A banda inglesa Grave Digger já apresentava uma sonoridade bem voltada ao que viria a ser o Power Metal desde seu primeiro lançamento, Heavy Metal Breakdown, de 1984. Os ingleses, porém, ainda eram bem enraizados no metal tradicional. Outra banda européia que também já mostrava um som mais próximo do Power era o Helloween, da Alemanha. Seu primeiro disco, Walls of Jericho, é considerados o primeiro álbum genuinamente do gênero.

Os dois grupos fizeram tours juntas em 86, ao lado da banda de Black/Thrash Celtic Frost. Enquanto o Grave Digger iria sair de atividade e só retornaria anos depois, o Helloween lançaria o álbum que o consagraria como “pai” do Power Metal: The Keeper of the Seven Keys Part I. Ele e sua seqüência foram provavelmente os discos mais influentes para o estilo.

Características Sonoras
De maneira geral, o Power Metal pode ser caracterizado por duas coisas: Primeiro, a palhetada rápida, tanto da guitarra quanto do baixo, mas com passagem de acordes mais lenta do que no Thrash Metal, o que cria tempos harmônicos maiores, tornando as músicas mais “melódicas”. Segundo, pelas melodias mais focadas nos vocais, que são quase sempre limpos ou líricos, com grande alcance de notas altas, seguindo a tradição de vocalistas como Ronnie James Dio, Rob Halford, Bruce Dickinson e Michael Kiske. Seguindo estas duas características, os estilo pode ser dividido em três “vertentes” mais comuns.

A primeira, criada pelo Helloween, seria o Power Metal “clássico”, sem muitos experimentalismos, mantendo-se fiéis à fórmula citada acima. A falta de experimentalismos, porém, acaba tornando as bandas meio previsíveis. Com o passar dos anos, é difícil notar algum destaque inovador fora o próprio Helloween. A única exceção fica para o Gamma Ray, que lançou em 1995 o altamente influente disco Land of the Free.

A segunda vertente foi criada pela banda finlandesa Stratovarius. Ela pegou a sonoridade criada pelo Helloween e introduziu novos elementos, como o uso de teclados, influências neo-clássicas e progressivas. Outra banda influente nesta direção foi a italiana Rhapsody of Fire, uma das primeiras a inserir elementos sinfônicos e de orquestra em seus trabalhos. Isto fez com que a mídia considerasse as bandas do gênero mais “melódicas”, e inclusive as classificasse como “Melodic Metal” ou “Melodic Power Metal”. Assim como no Power tradicional, as bandas do estilo tendem a ser um tanto previsíveis, já que são poucas aquelas que fogem do conceito criado pelo Stratovarius. Talvez os maiores destaques sejam a finlandesa Nightwish, que popularizou vocais líricos femininos no Power, e a brasileira Angra, que com o decorrer da carreira fez uma abrangente mistura de Power Metal, elementos neoclássicos e ritmos brasileiros - principalmente a MPB.

A terceira vertente do gênero foi criada pela alemã Blind Guardian, com ajuda da americana Iced Earth. Estas duas bandas foram uma das primeiras a misturar Power Metal com influências de Thrash Metal, dando mais velocidade e agressividade ao gênero. Muitas bandas que fazem esta mistura chegam a serem chamadas de Power/Thrash, como o próprio Iced Earth, por mesclar características das duas cenas muito bem. Certos grupos até usam blast beats (Morgana Lefay), e o vocal lírico, limpo e majoritariamente tenor deixou de ser lei.

Apesar de estas serem as três direções mais comuns, evidentemente há bandas que não se encaixam em nenhuma delas. Por exemplo, a banda japonesa X Japan, que tinha em seu som inúmeras influências, do Glam Rock ao Prog. Ou ainda o movimento Power/Folk, que mesmo tendo pouco ou quase nada de Folk, dá novos ares ao Power com a introdução de novos timbres. São raras as vezes, porém, que algo realmente novo aparece no gênero, principalmente por ele ser muito comercialmente viável e ter caído no gosto do mainstream, o que faz com que experimentalismos não sejam incentivados.

Temáticas
Um mito muito comum em relação ao Power Metal é de que ele é sempre relacionado a temas mitológicos ou imaginários. De fato, temáticas fantasiosas são bastante comuns na cena. Bandas pioneiras do gênero, como Helloween, Gamma Ray, Iced Earth e Blind Guardian popularizaram os temas fantásticos (esta última, em especial, a fantasia tolkieniana).

Alguns dizem que no Power as líricas sempre falam de temas “épicos”, por isso as letras fantasiosas são mais comuns. Tal definição, porém, é muito vaga. O que seria ou não épico, afinal? Será que apenas temas fantásticos merecem tal classificação? Seriam, por exemplo, batalhas da vida real menos épicas do que as imaginárias?

Os temas fantásticos, apesar de recorrentes, não são obrigatórios, muito menos exclusivos do Power Metal. Diga-se de passagem, muitas bandas de Heavy tradicional, Thrash e até Black também usam da fantasia em suas letras.

Há bandas do gênero que usam dos mais variados temas: vida (Angra), amor (Nightwish), relacionamentos (Sonata Arctica), ocultismo (Morgana Lefay), guerras reais (Sabaton), religião (Theocracy), dentre muitos outros. No entanto, é notável a predominância do imaginário e irreal até mesmo nas bandas que abordam outros assuntos.

Bandas que falam sobre política, ao contrário de em outros estilos de Metal, são raros na cena, porém não inexistentes. A maior parte mesclam são grupos que mesclam Power com Thrash. Exemplos de bandas assim: Full Strike, Horcas.

Diferenças
Uma das coisas que as pessoas normalmente percebem é como o estilo possui uma diferenciação de acordo com a região. Mais que os outros estilos, o power metal carrega ainda mais as características do país de onde se originou a banda. Porém, é preciso não exagerar neste conceito; muitas vezes bandas de origens diferentes podem compartilhar mais semelhanças do que duas bandas de uma mesma região.

Power Metal Norte-Americano
O estilo norte-americano é fortemente calcado no metal tradicional e na velocidade. Solos rápidos, vocais extremamente pomposos e leve apelo a música erudita. É possível notar nessas bandas um apelo machista muito forte. Em termos de instrumental, há sempre uma valorização da guitarra e dos vocais, deixando os outros instrumentos apenas como “plano de fundo’, como é possível perceber em bandas como Jag Panzer e Manowar.

Power Metal Europeu
A escola européia de heavy metal tem uma forte tendência de música erudita. Tradicionalmente, as bandas tendem a ser mais técnicas e com linhas mais melódicas que sua contraparte americana. O teclado começa a ganhar destaque, sendo, em muitas bandas, um dos elementos mais preponderantes, como é notado no Nightwish. Incorpora-se elementos de outras sonoridades, como a música folclórica. Isso se nota em bandas como Elvenking e Mago de Oz.

Power Metal Japonês
A grande diferença entre os japoneses é o apelo ao Hard Rock e ao progressivo. Há nas bandas do oriente um chamativo Glam Hard, que remete ao visual anos 80 de grupos como Bon Jovi, Poison, Mötley Crue etc e a sonoridades de bandas como Deep Purple, Malmmsteen, Van Halen, entre outras. Com isso sua sonoridade tende a ser mais simples inicialmente e, gradativamente, uma elevação da técnica, sem apelar tanto para a rapidez dos riffs. Bandas como X Japan, Girugamesh, Galreynus, 44 Magnun, Concerto Moon, Eizo Sakamoto, entre outras, mostram uma veia menos erudita e menos pomposa e mais próxima das raízes hard e prog do metal.

Ethereal

Vamos ser sinceros: dentre os estilos aceitos pela subcultura gótica não existe nenhum mais “distante” e ao mesmo tempo mais “perto” do que o ethereal. É um estilo que agregou para si diversos ritmos da música erudita, da música folclórica, da música eletrônica, do darkwave e ainda sim causa muita estranheza e confusão a muitos. É um estilo apreciado dentro e fora da cena gótica e, inclusive, é muito apreciado por músicos e fãs de black metal. Seja pela atmosfera altamente introspectiva, seja pela viagem que a sonoridade nos convida, isso é o ethereal.


Origens da sonoridade

Uma coisa que tem que ser deixada bem clara é a relação entre a sonoridade e a nomenclatura da mesma. O gênero existiu bem antes de ter o nome que tem hoje. E quem começou isso foram os grandes mestres da música etérea: o grupo australiano Dead Can Dance.

Formado em 1981 e contando com Brendan Perry e Lisa Gerrard, lançaram em 1984 o seu primeiro cd auto-intitulado. Nele havia uma  Spleen and Ideal, disco que consolidaria as bases do novo estilo, ainda sem nome nessa época. Vocais líricos masculinos e femininos de forma muito diferente da convencional para a época (que sugeriam ao mesmo tempo um sussurro e um canto erudito), forte presença de música erudita e medieval e letras muito mais intelectualizadas. O nome do disco é tirado de um livro de Charles Baudelaire, “Les Fleurs du Mal” (As Flores do Mal) e as letras desse cd se baseiam nesse escritor e em Thomas de Quincey, autor do livro “The Confessions of an English Opium-Eater” (Confissões de um Comedor de Ópio). E essa atmosfera carregada de simbolismos e sugestões que permearia o ethereal,
forte presença de gothic rock e post-punk, mas já daria mostras de como a banda seria inovadora dali por diante. Vocais mais sublimados, instrumental extremamente sombrio e atmosférico, somada a uma atmosfera muito diferente do que faziam as bandas góticas da época. No ano seguinte lançariam

Vale abrir um parêntesis aqui. A sonoridade pega, em termos de construção, muitas das idéias do Simbolismo francês. Esse movimento primava e muito pela atmosfera do etéreo, do sugestionado, do sublime, do espiritual. Em busca dessas sonoridades que o Dead Can Dance criou seu estilo, muito mais bonito artisticamente e conceitualmente do que outros grupos musicais no mesmo período.

Voltando ao grupo australiano, eles lançaram depois os discos Within the Realm of a Dying Sun (em 1987) e The Serpent's Egg (em 1988). Esses discos se afastariam totalmente daquele clima mais rock e entrariam quase no meio da música neoclássica e também no new age, ao combinar música medieval, música erudita, música folclórica, canções “a Cappella”, canções com vocalises (que é quando se canta as músicas sem nenhuma letra, cantando apenas sobre vogais, como acontecia na música medieval polifônica), como se percebe em canções como “Summoning of the Muse”, letras em outros idiomas (como latim, persa e catalão) e um estudo muito grande em busca de novas sonoridades.


Origem do rótulo

Certo, até aqui o Dead Can Dance fazia sua sonoridade, mas ela ainda não tinha nome. Existiam outros grupos que apostavam nessa sonoridade, como o This Mortal Coil, que apostava em regravações atmosféricas para clássicos de artistas como Alex Chilton, Chris Bell, Roy Harper, Gene Clark e Tim Buckley. Mesmo assim, até então, poucas bandas haviam apostado nesse tipo de som e mesmo ele não tinha um nome próprio, sendo chamado de neoclássico ou mesmo new age.


Em meados de 1990 surge a gravadora Projekt, fundada por Sam Rosenthal do Black Tape For A Blue Girl. Cria-se na Alemanha o selo Hyperium (que é um distribuidor do Projekt na Europa) e lança-se a coletânea Heavenly Voices, coletânea que contava com bandas que possuíam fortes influencias de Dead Can Dance e tendo como destaque os vocais femininos. Essa gravadora, com esse selo, cria o rótulo “ethereal”, para designar a atmosfera que esse som ressalta.

A gravadora não foi somente importante para o ethereal. O darkwave deve muito a ela também pela força que tem hoje, uma vez que ela foi, junto com a Cleopatra Records e a Cold Meat Industry (voltada mais para a música eletrônica e o dark ambient).

Com o Heavenly Voices criou-se o que seria padrão para as bandas de ethereal, seja em termos de sonoridade, seja em termos de público ou mesmo de músico que procuraria fazer esse tipo de som. Hoje essa sonoridade não está mais ligada somente aos grupos do Hyperium, mas a muitos outros que, vez por outra, também se inspiram na música etérea.



Sonoridade e temáticas

E o que define a sonoridade do Ethereal, afinal de contas? O que me faz saber se um grupo é ou não é ethereal, afinal de contas?

Sonoramente falando, ele flerta muito com o neoclássico e com o new age. É muito fácil pensar em grupos como Enigma como ethereal, uma vez que possuem uma temática mais sombria e até mesmo elementos eletrônicos bem visíveis. Só que a grande chave do ethereal é justamente a idéia da sugestão, do etéreo, que é dado sobretudo pelo vocal. A importância dele é enorme no som, uma vez que ele, que sempre passa a idéia de algo sussurrado. Há uma predominância de vozes femininas líricas, havendo poucos homens cantando nesse estilo. Os poucos que cantam também usam do canto lírico, erudito, sem soar forçado ou mesmo extremamente agudo. Isso se configura pelos seus músicos quase sempre formados em música erudita. A voz passa a ter a importância de um instrumento musical, em vez de ser a base ou mesmo o complemento para todo o resto.

Em termos de melodia instrumental, há uma mescla com o darkwave e com diversos gêneros, como a música medieval, folclórica, celta, erudita e também alguns experimentalismos eletrônicos. Grupos como Lycia mesclam também música européia e música pop. O gênero se mostra muito versátil, pois combina instrumentos acústicos com batidas eletrônicas e música pop. Sua orientação sonora se dá por um clima eletrônico
ambiente, o que dá uma cara muito mais atmosférica ao som. Esse clima, aliás, é a maior marca do ethereal, esse som extremamente carregado e atmosférico.

A temática sonora é diversa. Ela pode ser totalmente voltada para o darkwave, perceptível em grupos como Black Tape for a Blue Girl e Collection D’Arnell-Andréa, voltada para a música erudita, como no Autunna et as Rose, voltada para a música folclórica medieval, tendo seu maior expoente o grupo italiano Ataraxia, voltados para uma temática mais introspectiva e atmosférica, como o Lycia. Existe um gênero nascido dentro desse círculo denominado Ethno-Fusion, que é ethereal feito com música de paises da Europa Oriental e da África, tendo um dos maiores nomes o grupo francês Rajna.




Legado e influências

A contribuição para a música dos grupos de ethereal é enorme e bem marcante. A própria concepção do estilo trouxa para a música popular ritmos que costumam ser ignorados pela maioria das pessoas, como a música africana, a música indiana, o canto sacro, a música medieval e traz a esses ritmos um toque mais moderno, mais contemporâneo.

Como já foi citado, o estilo do ethno-fusion (ou simplesmente etno) nasceu dentro desse circuito, trazendo para o grande público um som orientado aos sons considerados pelo europeu como “exóticos”, diferentes, por fugir daquele padrão neoclássico ao qual estão acostumados.
Criou-se também um outro subestilo, o dream-pop. Collide, Galaxy 500, Strange Boutique etc. incoporariam outros elementos ao dream-pop, como o Trip Hop e o rock alternativo.

Esse estilo vai pegar toda a atmosfera do ethereal e mesclar com o post-punk e com a música pop, dando uma cara mais “rock” ao gênero. O Cocteau Twins é considerado o primeiro grupo de dream-pop, misturando post-punk, gothic rock e ethereal. Mais para frente grupos como

Por conseqüência influenciou também no shoegaze, que é uma versão mais pesada e violenta do dream-pop. Antigamente, antes de se tornar um estilo independente do dream-pop, o shoegaze nasceu da mistura com um rock mais barulhento e pesado (que hoje se chama de indie rock). Nasceu da atmosfera introspectiva que o som herdou do ethereal, que criava um certo desligamento do artista com sua realidade durante o show, não se importando com nada ao redor, nem mesmo com o público. Era freqüente que olhassem para o chão, numa tentativa de ignorar totalmente o que estivesse ao redor (daí o termo shoegaze, que era o ato de ficar olhando para o brilho dos próprios sapatos). Grupos e artistas como Sigúr Ros, Björk, The Verve etc. ficariam famosos ao redor do mundo exatamente por terem essa postura e esse grau de experimentalismo com a música ambiente, herdados indiretamente do ethereal.

Aconteceu também uma influência desses dois estilos no próprio ethereal. O Dead Can Dance, o Lycia, o Love Spirals Downwards, o Faith and the Muse e outros grupos passariam a incorporar alguns elementos dos novos estilos e trazer uma mistura ainda maior a salada que é o ethereal.


No metal houve uma influência muito marcante do gênero. O My Dying Bride é claramente influenciado pelo ethereal, pelos vocais mais sublimados, pelo som mais atmosférico, pelo clima triste e melancólico. As bandas de doom com sonoridade mais atmosférica costumam sempre se inspirar no ethereal, como acontece com os italianos do Void of Silence.

O black metal atmosférico é altamente influenciado da mesma forma que o doom metal. O Summoning é uma prova disso, por conta de seu idealizador, Richard Lederer, que também possui trabalhos darkwave, como o Die Verbantenn Kinder Evas e o Ice Ages. O Alcest vai usar da mesma base de Lederer, tocando um black metal atmosférico com influencias de ethereal e, sobretudo, do shoegaze, assim como o The Angel Process, que toca um som orientado ao metal, mesclado com música ambiente e shoegaze.


O estilo hoje

Hoje a impressão que se tem é que o ethereal tenha caído do gosto das pessoas. Poucos grupos têm surgido nesses últimos anos, os mais antigos têm terminado (como o Lycia) ou mesmo estão parados por tempo indeterminado (como o Dead Can Dance).

Só que o estilo não morreu. Tem muitas bandas que ainda apostam nesse segmento, como o Rajna, o The Downward Path, o Scarlet Leaves, entre outros. Grupos mais antigos que ainda estão na ativa, como o Ataraxia, o Chandeen e o Collection D’Arnell-Andréa.

O neofolk tem sofrido muitas influencias do ethereal, perceptível nos trabalhos do Faun, Moon Far Away, Liholesie, Sopor Aeternus (embora ele oscile muito entre o ethereal e o neofolk), Allerseelen. Há ainda ethereal influenciando gothic rock como acontece nos trabalhos do Violet Tears. E não podemos esquecer dos grupos de neoclássico/dark ambient, como o Elend, o Dark Sanctuary e o Autumn Tears, que mostram claros indícios de Dead Can Dance no som.

Ethereal não é um estilo simples. É muito rico, muito mais do que simplesmente fingir que coloca música erudita. Muito mais do que tentar fazer um som complexo para parecer bom. Ele alia simplicidade com técnica, alia experimentalismo a música popular e requer maturidade. Maturidade para entender como se pode misturar tanta coisa, como se pode ser técnico e, acima de tudo, criativo, rompendo as barreiras do seu próprio estilo.

Para finalizar, disponibilizo uma coletânea com uma reunião de grupos de ethereal.

Gothic

Vira e mexe temos pessoas que procuram saber o que faz e o que é a música gótica. Querem entender da subcultura e entender como os góticos se tornaram góticos e de onde surgiu tudo isso.

Até então nunca houve uma ênfase muito grande, dentre os textos aqui publicados, para uma das coisas mais importantes do meio: o som. Nenhum dos artigos visou explicar o que é o que dentro da subcultura em termos de sonoridade, de bandas, de elementos que ajudaram a definir a mesma. Então, caros leitores, vamos embarcar num pequeno resumo sobre o que é, de fato, o estilo que originou tudo isso, que fez com que os góticos tomassem vida (ou se levantassem de seus caixões): o gothic rock ou rock gótico.

Origens

E por onde tudo começou? Em muitos locais a informação corrente é que tudo começou com o post-punk, entre 1979 e 1983. De fato, grupos como o Joy Division ajudaram a começar tudo isso, mas vamos traçar aqui um linha musical para que você, caro leitor, possa se situar.

No princípio era o punk, com seus ideais de revolta, de protesto e de rebeldia contra todo o sistema, mesmo sem saberem, ao certo, que sistema era esse. Suas roupas rasgadas, seus cabelos e visuais que remetiam a algo mais violento.

Só que o cenário mundial pendia para outros rumos. Guerra fria, crises econômicas etc. abalaram aqueles ideais de revolta. A postura começava a mudar para a passividade do ser perante o mundo cada vez mais decadente. Em termos sonoros o punk, outrora rebelde e cheio de energia, flertaria com os novos movimentos musicais que surgiam no período. Suas letras se intelectualizariam e perderiam o ideal de revolta para ganharem idéias de tristeza, de melancolia e de morbidez perante o mundo. O visual passaria a ficar um pouco mais sóbrio que o punk, mais retrô (para a época, evidentemente). Assim nascia o post-punk. Mantendo a simplicidade do som, mas mudando radicalmente seu direcionamento.

Agora vamos dar uma pausa no post-punk. Sabendo que uma parte do estereótipo começou por aí, vamos ao grupo inglês Bauhaus, em setembro de 1979. Sonoramente falando valia-se de um post-punk com temas mais introspectivos e climas mais sombrios. Visualmente se pautavam no glam do David Bowie. Suas letras passaram a ter temas mais sombrios e humorísticos, ligados ao cinema e a movimentos de vanguarda (não que fossem os temas principais, apenas os mais visíveis). Joy Division chamado de post-punk, Siouxsie and the Banshees ainda dentro do punk-rock e o The Cure podendo ser considerado New Wave na época. Todas essas bandas tinham alguma marca do que seria chamado mais tarde de gótico. Só que o Bauhaus não entrava em nenhuma delas. Tinha influência de tudo isso e soava ainda como post-punk, mas seu estereótipo era gótico, suas temáticas seriam chamadas de góticas e, por esse motivo, é considerada a primeira banda gótica.

Agora, tirando esse estereótipo, quem de fato deu uma cara ao estilo foi o The Sisters of Mercy, que surgiu em 1980. Mais ainda que o Bauhaus, o grupo de Andrew Eldritch definiu as bases do rock gótico. Vocais grossos, instrumental carregado na melancolia, letras extremamente sombrias, visual mais “dark” entre outras coisas. Isso aconteceu no começo da década de 80. A banda, antes de lançar seu primeiro cd, The First The Last and The Always, era presa fortemente no post-punk. Mas nesse período já flertavam com a new wave e buscavam um som mais próximo do que podemos chamar de “gótico”.

Claro que um Sisters só não faz um gótico... outras bandas do mesmo período, como Danse Society e o Play Dead também começaram a fazer história. Além disso, o UK Decay sairia do post-punk e entraria com sua própria sonoridade “gótica” no cenário. Houve também a mudança sonora do Siouxsie and the Banshees, além de visual. A banda se tornaria um ícone do gothic rock com vocal feminino e serviria de base para bandas mais para frente nos anos 90.

Outra banda que também ajudou demais dentro da cena foi, sem dúvidas, o Christian Death. Tocavam um gothic rock puxado demais para o punk rock, com melodias mais agitadas que a do Sisters e cia. Suas marcas dentro da cena ajudaram a voltar para aquele lado punk que deu origem ao estilo e ainda ajudou, na década de 90, a criar outro estilo musical denominado deathrock, que flerta com o horror punk, o punk rock e o psychobilly, seja visualmente, seja sonoramente ou ambos, como se percebe nas bandas Cinema Strange e Tragic Black, apenas para citar os exemplos mais célebres.




Influências e sonoridade

Até aqui temos o começo, o que de fato fez o gothic rock surgir musicalmente falando. Mas e a sua sonoridade? O que a fez chegar onde está? O que a influenciou? O que a influencia até hoje?

Primeiro, vamos falar da base. O post-punk é a base que alicerça a sonoridade do gothic rock nos seus primórdios. Bandas como Joy Division ajudaram a dar a cara, mas o que muitos ignoram nesse ponto é o Killing Joke. Aqui cabe uma opinião pessoal e que muitos certamente não irão concordar.

O Killing é mais influente sonoramente que o Joy. Todo o flerte com a música eletrônica, a atmosfera de nostalgia, as letras tristes e voltadas para temas cada vez mais sombrios e decadentes, o visual, enfim, tudo deles influíram muito mais que o próprio Bauhaus. O banda foi apenas o alicerçamento de tudo isso e nada mais.

Teve também a influencia da new wave. O The Cure (que passaria para o gótico depois e sairia do mesmo), o New Order e outros grupos que começaram uma nova onda musical que procurava algo que se opusesse a velha onda, que estava gasta e batida. Isso trouxe os elementos eletrônicos para o gothic rock, junto com a crescente onda da música eletrônica que surgia na Europa no final da década de 70.

Não se pode ignorar também o Adam and the Ants. A carreira dele foi fortemente calcada no pop, mas por um curto período de tempo teve uma sonoridade voltada para o punk e um visual que era inspirado no fetichismo. Sua guitarra mais “distante” era somada a uma bateria tribal, coisas que marcam o som de grupos como o Sex Gang Children e o Southern Death Cult.

Claro que não se pode esquecer da influência maior em termos de visual e de sonoridade que foi o David Bowie. Inspirou o Bauhaus e boa parte da sonoridade e identidade visual de outras bandas, trazendo com ele o glam rock. Boa parte de suas letras mais voltadas para uma intelectualizada, seu visual andrógino e tudo o mais trouxe ao gótico aquilo que lhe serviria de base e o desvincularia do punk. Outros grupos, como o The Doors, T-Rex e The New York Dolls foram tão importantes quanto Bowie nesse ponto. Com o tempo, o rock gótico pegaria também sonoridades em outros locais, sobretudo na música eletrônica. Isso fica mais evidente em bandas a partir da década de 90, como o Ikon.

E com tudo isso, como podemos definir a sonoridade desse estilo, afinal de contas?

Uma coisa a ser pensada é que o som tende a ser mais atmosférico e mais “sombrio” que o rock tradicional. Sem o peso do metal, com a estética sonora ainda agarrada a alguma coisa punk. Vocais simples, em geral graves (quando masculinos) ou levemente agudos, dando uma impressão meio “desleixada” e sem a sofisticação dos vocais dentro do hardrock e do metal. Uma marcação mais forte no baixo, coisa incomum em outros gêneros de rock, onde quem manda é a guitarra. Esta vira coadjuvante, servindo apenas para dar andamento ao som. Bateria simples, quando não programada e até, em alguns casos, o uso do teclado.

Confusão com o gothic metal

Existe um grande problema, advindo do final da década de noventa com a tentativa do “revival” do gothic rock. Muitas bandas de metal sendo mostradas a um público leigo como pertencentes ao meio gótico e não passando, muitas vezes, de bandas de metal. Como isso aconteceu? Qual a razão de as pessoas confundirem duas coisas que estão distantes, extremamente distantes?

Vamos voltar um pouco ao gothic metal. O estilo, nascido do doom, começava, a partir de 1996, a pegar elementos da música gótica, sobretudo o rock gótico. Paradise Lost, Moonspell, Entwine, Type O Negative e outras tentaram colocar essa sonoridade gótica e passaram, de fato, a soarem mais góticas do que metal, embora conservassem o peso. Nesse mesmo rolo começaram a aparecer bandas de gothic rock com fortes traços de metal, como Dreadful Shadows, Seraphim Shock, Love Like Blood, que eram mais pesadas que as bandas mais convencionais e começaram a ser aceitas entre os headbangers. Isso fez indiretamente alguns pensarem que o gothic metal fosse uma “evolução” do gothic rock e que ambos eram a mesma coisa.

A segunda confusão se dá pela primeira. Em países com pouca tradição com a música gótica (sobretudo Finlândia) o nome “gothic rock” ganha muita força. Aliado ao sucesso do grupo The 69 Eyes e pela fama no meio gótico do grupo Two Witches, muitas bandas e gravadoras querem ganhar algo com esse estilo, que passou a virar uma espécie de “marca”. Partindo desse ponto, qualquer banda de metal que fizesse um som menos pesado e com algum elemento estilo Paradise Lost passaria a ser chamada de gothic rock. Esses grupos não possuem nenhum traço sonoro e visual que remetesse ao estilo citado, não caindo no gosto dos góticos. Viraram produtos para headbangers que quisessem ouvir alguma coisa nessa linha e, contudo, não quisesse fugir muito ao heavy metal. Isso fez com que as pessoas imaginassem o gothic rock como algo “sombrio” e “triste”, coisa que não corresponde à realidade.

O terceiro motivo é calcado numa outra banda, o Theatre of Tragedy. O grupo sempre teve elementos de gothic rock/darkwave em seu som, misturados inicialmente com música barroca e depois tirando esses traços, gradativamente. O vocal soprano de Liv Kristine e a proposta da banda serviram para que algumas pessoas, anos mais tarde, começassem a associar qualquer banda com vocal feminino de gótica. Desse modo temos coisas como Within Temptation e Evanescence sendo chamadas por algumas pessoas de “roque gótico”.

O último motivo se dá por duas bandas em especial. A primeira é o Lacrimosa. O projeto, inicialmente tocado por Tilo Wolff, era calcado numa proposta gothic rock mesclada com a música erudita. Essa sonoridade neoclássica caiu no gosto dos fãs de metal e agradava também os góticos. Com o tempo o projeto foi assimilando as mudanças da cena européia e o crescimento do darkwave. Com a entrada de Anne Nurmi do Two Witches e a incorporação de alguns elementos do heavy metal, o projeto passou, nesse ponto, a se focar nos headbangers. Com isso, de forma indireta, a sonoridade gótica entrou, por conta de uma mídia desinformada, no meio desse grupo, sobretudo no Brasil.

A segunda banda é o H.I.M. Tocando um pop rock bem dançante e com fortes tendências glam (sim amiguinhos, nada de love metal aqui), aliado ao fato de terem caído no gosto dos góticos, fez com que alguns achassem que era também uma banda gótica. Como eles flertam muito com o metal, foi um pulo para que bandas com sonoridade similar fossem colocadas no meio, como se fossem gothic rock. É claro que temos bandas dentro da cena gótica influenciadas pelos finlandeses, mas são poucos grupos que realmente podem ser chamados de “góticos”.

Legado e novas tendências

O gothic rock deixou um legado enorme dentro e fora da cena gótica. Vamos ver alguns pontos bem interessantes que merecem uma reflexão.

Dentro da cena vários estilos nasceram e tiveram como base o rock gótico. Deathrock, ethereal e darkwave começaram com base nesse estilo e hoje se distanciaram a ponto de criarem uma cena própria. O dito “electrogoth” pega gêneros como EBM, Synthpop, Industrial e outros e mesclam com algumas características do goth rock, em especial o vocal. Isso acontece de forma mais indireta, por conta do darkwave.

Hoje não se trabalha, dentro da cena, exatamente com uma tendência forte. O que acontece são pequenas tendências que se somam e tornam o estilo uma mistura ainda maior. Existe um certo direcionamento ao eletrônico, como tem acontecido com o Ikon e o London After Midnight. Algumas bandas tem adicionado metal ao seu som sem deixar de ser gótico, como acontece com o Dryland, Star Industry, The Awakening, Love Like Blood etc. Isso quer dizer que o metal faz parte da cena? De forma alguma, existem apenas algumas bandas que resolveram entrar nesse meio. Existe também uma série de “tributos saudosistas”, onde temos bandas, como o The Wake fazendo um som na linha do Sisters of Mercy, mas mantendo ainda um toque de modernidade.

Fora do meio temos bandas de metal se influenciado, seja sonoramente, como o Paradise Lost e o Lacrimas Profundere, seja visualmente, como no caso do Entwine ou ambos. O gothic metal, embora não necessite do gothic rock, deve muito do seu estilo ao mesmo.

Temos ainda as novas bandas, que têm buscado sua identidade sonora em outros estilos, como acontece com o Plastique Noir. Muitas bandas hoje não querem mais estar presas ao padrão Sisters of Mercy ou ficar somente nos anos oitenta. A cena vive uma renovação constante e, com o tempo, vem incorporando novas sonoridades e novos avanços na cena musical. Mas nunca irá morrer e sempre vai inovar, de uma forma ou de outra.

Para finalizar esse artigo, coloco para vocês dois cds onde eu reuni bandas acerca do estilo. No primeiro cd eu coloquei bandas da década de oitenta que ajudaram a alicerçar o gothic rock e toda a subcultura. No segundo são bandas pós-anos oitenta, para mostrar que o estilo não morreu e que continua vivo e se renovando sempre. Ou seja, sem desculpas para não saberem sobre o que é rock gótico.

Gótico: Histórico Dos Usos E Significados

Vamos pensar numa coisa bem simples: esse termo aparece em vários sites e mesmo muitas pessoas o usam de forma totalmente distorcida ou mesmo fora de contexto. Muita gente ainda acha que todos os seus significados possuem, num termo geral, uma relação direta de significação, coisa que é totalmente errada. Com isso nesse artigo eu quero expor os usos possíveis dentro de seus contextos e como um ajudou a influenciar no significado do outro, muito embora hoje eles sejam totalmente distantes.

Arquitetura Gótica

A princípio, ela se refere a um estilo arquitetônico e escultural da Idade Média, que diferia do estilo românico, baseado no modelo romano de arquitetura. Engloba também a pintura e a iluminura, que serão explicados a seguir.

Na parte da arquitetura, ela surge como contraponto à arquitetura clássica. Possui formas mais geometrizadas e retas, refletindo um fato que vai influenciar muito na pintura e na iluminura também. O homem medieval acreditava que Deus vê as coisas muito de cima e vê tudo como se fossem formas geométricas. Desse modo, há uma predominância muito grande dessas formas, que mais tarde seriam revistas pela escola de vanguarda alemã Bauhaus. O grande chamariz desse tipo de arquitetura são as catedrais. Enormes, imponentes e rebuscadas, possuem uma construção que era feita para a entrada da maior quantidade possível de luz ambiente, mostrando a grandeza de Deus e de sua pureza dentro da escuridão. Predominavam nelas também os vitrais, coloridos, que sempre tinham temas ligados à religião cristã. As torres eram sempre altas e pontiagudas, na tentativa de alcançar Deus. A escultura era um complemento à própria construção. Devido ao medo crescente do homem medieval com as invasões dos bárbaros. Gárgulas eram colocadas na tentativa de assustar os espíritos do mal (como esses bárbaros eram vistos pelas pessoas comuns). Havia nisso uma sensação muito grande de verticalidade, onde a pessoa sempre tinha a impressão de que tudo convergia para o alto e, portanto, para os céus.

Já a pintura tratava da bidimensionalidade, ou seja, não existiam planos e nem perspectiva. As imagens eram chapadas, sempre com alguma imagem divina maior ou algum demônio colocado de forma horrenda e grotesca, que servia para aumentar o medo da pessoa ir para o Inferno e que teria de enaltecer Deus. Toda a pintura medieval ligada à arte gótica vai formar uma forma geométrica reta ou mais de uma.

As iluminuras são pequenos desenhos feitos na abertura de capítulos de livros, iniciais de documentos, aliando ornamentação à pintura. Os temas são bidimensionais, da mesma forma que acontece com a pintura. Os artistas que faziam essas iluminuras eram muito bem pagos para fazerem-nas, contudo, costumavam ficar cegos com o tempo, muitos antes dos 30 anos, devido ao esforço visual que se fazia para colocar o rebuscamento que essa arte pede.

Mas por que então essa arte passou a ser chamada de gótica? Agora que entra um fator que muitos ignoram ou mesmo confundem na hora de descrever essa forma artística.

No período em que fora concebida, essa arte não tinha um nome especifico. O homem medieval não chamava aquilo tudo de gótico, tampouco lhe passava a idéia de fazê-lo. Aconteceu que, durante o período do Humanismo italiano e no começo do Renascimento, os artistas propunham uma volta aos ideais clássicos, ou seja, gregos. A arte românica, outrora pouco valorizada, ganhava um certo status. Com isso esses mesmos artistas italianos passaram a ter um certo repúdio da arte medieval, que era considerada antiquada e “tosca”. Como forma depreciativa, passaram a chamar a mesma de gótica, uma alusão ao povo godo.

Esse povo era um ancestral dos teutônicos, invadindo os impérios romanos no século III, dividindo-se em godos do leste (ostrogodos) e do oeste (visigodos). Não foram eles que construíram as catedrais góticas ou qualquer coisa relacionada com essa forma de expressão artística. Esse povo era um povo bárbaro, mais conhecido por saquear e pilhar as cidades por onde passavam. Eram nativos da Gótia, na região hoje conhecida como Suécia e migraram tanto para a península ibérica (ostrogodos) e para a península itálica (visigodos), sendo que esses últimos foram responsáveis pela conservação e manutenção de diversos monumentos romanos.

Por conta de tudo isso que aqueles antigos castelos, aquelas catedrais majestosas, entre outras construções medievais, soavam de mal gosto para os italianos renascentistas. Daí o denominativo, que ficou até hoje para designar a arte medieval.


Romance Gótico

Aqui entra a segunda conotação do termo gótico. Antes de explicar acerca dele, é preciso que entendam um pouco de literatura, sobretudo inglesa, do século XVIII até o XIX. O panorama histórico da Europa nesse período era marcado por uma Revolução Industrial muito forte, pela Revolução Francesa e pela ascensão da burguesia ao poder. Isso se refletiu muito na forma com que a literatura seria concebida na Inglaterra e, com isso, no resto do mundo.

Os escritores ingleses estavam cansados daquela linguagem artificial pregada pelos gramáticos do século anterior, com seus manuais do bem falar e do bem dizer. Cansados de terem de escrever numa linguagem que não era a que eles falavam no dia a dia. Impulsionados pela queda da monarquia absolutista e a ascensão daqueles que se diziam a favor de toda a liberdade, os escritores passaram a escrever com mais liberdade. Só que ao mesmo tempo, a cidade se mostrava um local ruim, uma vez que a própria revolução industrial mostrava sinais da desigualdade social. Era preciso sair dali. Era preciso voltar ao passado glorioso, dos tempos de cavalaria. Era preciso mostrar ao mundo que os sentimentos precisavam ser expostos, coisa proibida pelos árcades ingleses. A partir daí surgiria o Romantismo.

Apesar de ser um movimento inglês, um autor que influenciou muito na forma de como a escola literária se pautaria seria, sem sombra de dúvidas, Goethe. Com seu livro, Os sofrimentos do jovem Werther, ele inauguraria uma literatura subjetiva, voltada para o eu, para o mundo interior, que traria de volta o mito, o medo, a vontade, a alegria, a tristeza e muitas outras coisas que vinham de outros tempos. Com isso ajudaria na criação do romance, que é a forma de literatura que o Romantismo trouxe e permanece até hoje.

Com tudo isso teve começo a era mais gloriosa da literatura inglesa. Muitos escritores produziam muita coisa ao mesmo tempo, houve uma renovação da poesia e a prosa começava a ganhar uma notoriedade maior. Mesmo sendo uma literatura com valores burgueses, alguns escritores criticavam a burguesia em seus escritos, mas sem o mesmo teor que a escola realista francesa imprimiria, com a evolução da ciência humana.

Só que na Inglaterra não existiu um Romantismo dividido em fases, uma vez que se produzia de tudo naquele lugar nesse período. Existia um Percy Shelley e sua poesia forte, calcada em temas contra a dominação ao mesmo tempo em que existia um bucólico como William Wordsworth e seus temas pastoris. É possível afirmar que não existe uma unidade em termos do que, de fato, caracteriza a escola romântica inglesa e tampouco existem fases, como acontece no Brasil e em Portugal.

Dentro desse meio começam a surgir alguns romances que abordavam temas do passado, lendas, ocultismo, tudo isso com elementos ligados à morte e ao pessimismo. Isso passou a ser chamado de romance gótico.

Esse forma de romance surgiu na Inglaterra com a publicação do livro The Castle of Otranto (O Castelo de Otranto), em 1794, por Horace Walpole. A história se passa num castelo, herdado por Manfred, mas uma maldição o impede de tomar posse em definitivo. Esse romance possui como ponto central um castelo medieval e aparecem claras referências ao período medieval, como fantasmas, armaduras, passagens secretas, lendas, entre outras coisas. Um romance que desafiava a lógica científica de algumas pessoas e que se colocava em contraponto com muitas das idéias do homem pós-Revolução Industrial. Por conta desses elementos passou a ser chamada de gótica essa forma de se fazer romance, criando então o romance gótico. Ele passou a pegar elementos do teatro para aumentar a sua dramaticidade, sobretudo as tragédias de Shakespeare, visível em escritores como Ann Radcliff, Mary Shelley, Bram Stocker e outros, que também inaugurariam a literatura voltada para o horror sobrenatural, resgatando velhos mitos e colocando-os em suas obras.

Pelo fato desses romances serem carregados de uma carga imensa de melancolia, de medo, de sobrenatural e do desconhecido, qualquer romance escrito com essas características passou a ser chamado de gótico.Esse termo perdeu o caráter pejorativo que tinha, depois de muito tempo, passando a se mostrar como algo realmente rentável, atendendo a um novo público que buscava sempre comprar e adquirir as histórias assustadoras. O romance gótico então é fruto do romantismo inglês, carregando consigo os mesmos valores que qualquer obra romântica, com forte apelo a um comercialismo emergente. Só que nesse caso buscava-se mostrar a mortalidade do próprio homem frente aquilo que ele não podia controlar.

Alguns podem afirmar que Edgar Alan Poe era um escritor gótico. Alan Poe, mesmo povoando algumas de suas obras com o sobrenatural, ajudou a conceber o elemento do suspense, criando muitas das coisas que hoje se vê nos romances policiais e de suspense. Foi de grande importância para a literatura inglesa escrita na Inglaterra como um todo, influenciando gente como Conan Doyle, autor de Sherlock Holmes.

Antes de concluir essa parte, é preciso ressaltar que a literatura gótica nunca existiu. Nunca existiu também nenhuma forma de poesia chamada de “gótica”, por assim dizer. Tanto que poemas com elementos de tristeza, de sentimentalismo e outros já existiam desde o período medieval. O que os românticos acabaram fazendo foi, em alguns casos, um resgate dessas poesias e adaptarem a nova forma. O Romantismo previa a liberdade de criação (embora ainda seguindo a métrica e em alguns casos, a rima), podendo ou não usar desses elementos.





Contexto Moderno: O movimento gótico

Obs: caso queira saber sobre o gothic metal, por favor, buscar esse artigo.

Certo, até aqui o termo gótico acompanhou dois contextos, um arquitetônico e outro literário. E como esse termo veio parar no movimento dos anos 80?

A banda Joy Division foi a primeira a ser rotulada de gótica, mas não em termos de sonoridade propriamente dita, mas sim isso aliado a letras melancólicas e tristes e um visual mais retrô. Esse era o termo usado pelos jornalistas para designar qualquer banda que fosse similar ao Joy Division e também ao Siouxsie and the Banshees.

Agora, como esse termo entrou exatamente na subcultura é uma grande incógnita. A primeira hipótese é pela entrevista dada por Abbo, do UK Decay, que acabou meio que dando um “nome” a esse movimento. Na entrevista dada a revista Sounds, de fevereiro de 1982, segundo Steve Keaton: "he said 'it's gonna be a movement' and we're going nah, we'll be gone in six months. He said you've got to get a name for it, it's not dance or alternative or New Pop or mod... and I remember saying 'we're into the whole Gothic thing'... and we sat there laughing about how we should have gargoyle shaped records and only play churches. Course he put it all in the interview.. for six months everything went quiet then when the album came out everyone was asking 'what's this Gothic thing you're into?' And it's a total joke!” (Tradução: ele disse que isto ‘viria a ser um movimento’ e ‘que não éramos nenhum, nós seriamos em seis meses’. Ele disse que você daria um nome a ele, que não seria dance, alternativo, New Pop ou moderno... e me lembro dizendo ‘ estamos nessa coisa gótica toda’ e que nós estaríamos sentados, rindo sobre como teríamos gravações em forma de gárgulas e tocando somente em igrejas. Claro que ele colocou isto em toda a sua entrevista, por seis meses tudo estava quieto quando então o álbum veio e todo mundo esta perguntando ‘ o que é esta coisa gótica? Isto é uma piada!”)

E em outras entrevistas ele continuaria a usar o mesmo termo “gótico” para se referir ao movimento que até então não tinha um nome.

Outra possível paternidade para o termo é atribuída a Ian Astbury, vocalista do Southern Death Cult (que mais tarde viria a se chamar simplesmente de The Cult). Ele clama a si como o autor desse termo dentro da música, como confirmou em uma entrevista dada à Alternative Press em novembro de 1994 e na Details Magazine, em julho de 1997. num artigo intitulado "The Gloom Generation", onde cita que o termo surgiu como uma brincadeira com Andi Sex Gang, líder da banda Sex Gang Children. Isso teria acontecido pelo fato de seus fãs usar roupas similares a de grupos como Bauhaus e Specimen, grupos chamados pelos jornalistas de góticos.

Então o termo gótico aqui perdeu toda a sua ligação com a arquitetura gótica e com o romance gótico. Talvez a semelhança entre eles seja o fato de que, depois que esse termo virou corrente dentro dessa tribo urbana, muitos passaram a pesquisar coisas dentro da literatura e das artes medievais e incorporarem esses elementos em maior ou menor grau. Mas isso não liga os góticos com os romancistas ingleses e nem com os godos, tampouco os liga com a arquitetura medieval francesa, que fugia da estética clássica e buscava exaltar a grandeza de Deus. É apenas um movimento que nasceu de uma “evolução” da cena post-punk na década de oitenta e não possui, portanto, nenhuma ligação com o período medieval e nem com seitas místicas ou mesmo com bases ideológicas.


Referências

Para quem quiser saber mais sobre os temas abordados nesse artigo, eu recomendo a leitura de alguns livros e sites, que discrimino abaixo:

Sites

História da Arte
Contém resumos muito interessantes sobre diversos movimentos artísticos. É bem completo, vale uma lida.

Scathe Demon
Não adianta chiar, esse é o melhor site sobre a subcultura gótica que tem na net, com muitas informações preciosas acerca da cena.

Luminarium
Com muita informação sobre a literatura inglesa e com links para os textos.



Livros

___, Adventures in English Literature. HOLT, RINEHART & WINSTON, 1996
Um livro muito bacana sobre literatura inglesa, com textos bem abrangentes.

Sampson, George; Churchill, R. C. The Concise Cambridge History of English Literature. Cambridge University Press; 3 edition, 1970.
O melhor livro sobre literatura inglesa, com um capítulo enorme sobre o romantismo inglês.