Origens
Uma possível origem a esse estilo reside nos anos 80, na Inglaterra. O pai desse estilo seria o projeto de Douglas Pearce, o Death In June. Em 1983 começou com alguns experimentos usando instrumentos acústicos e percussão para recriar o som de tradição folclórica da Inglaterra, misturado com batidas eletrônicas e sons post-industriais. Esse álbum se chama The Guilty Have No Pride e foi gravado em colaboração com Patrick Leagas e Tony Wakeford, que mais tarde sairia para montar o Sol Invictus. Essa saída se deu, em principio, por divergências com o líder do Death In June, porém, no final dos anos 80 eles restabelecem contato e continuam como amigos até hoje.
O Death In June sozinho nao fez o neofolk. David Tibet, fundador do projeto Current 93, em 1982, é introduzido nos meios esotéricos, místicos e sobrenaturais por Pearce. Ele passou a freqüentar esses círculos, coisa que influenciou e muito nas suas composições musicais, que se baseavam em poesia, magia, thelema, satanismo e hermetismo. Isso afetou demais o som que o Current 93 fazia, que era calcado no industrial e passou a abordar temas folclóricos.
A banda de Wakeford também seria um dos pais do estilo. O Sol Invictus passaria a experimentar a sonoridade folclórica com guitarras, rock progressivo, post-industrial e, mais tarde, sonoridades típicas do movimento neoclássico, que procurava dar uma reavivada na música erudita, dando contornos mais modernos.
SONORIDADE
Uma coisa que o neofolk se diferencia das bandas de folk tradicionais são os elementos de música experimental. Muito embora a origem seja a mesma, o resgate da sonoridade regional tradicional, o movimento difere na sonoridade. Enquanto grupos de música folclórica resgatam a música da forma como ela era executada, o neofolk a usa como pano de fundo para misturar a ritmos modernos, experimentais, eletrônicos e, depois de um certo ponto, até mesmo do darkwave. Há em vários momentos um flerte com o ethereal, como acontece em grupos como o Faun. Contudo, a grande diferenciação do ethereal reside na própria sonoridade, sendo este de um tom mais atmosférico e sublimado.
Há o uso de instrumentos típicos da Europa, em alguns casos até mesmo da cultura medieval. Nisso há uma grande pesquisa, seja ela em termos musicais, seja em termos de estrutura de composição ou mesmo a leitura de partituras. O som, muito embora de concepções simples, pode flertar com o neoclássico e até mesmo com ritmos mais darkwave, mas isso não é via de regra. O grande quesito do neofolk é resgatar a cultura através do experimentalismo e das tentativas.
TEMÁTICA
Os temas do neofolk se pautam basicamente na mitologia, nas crenças populares, no ocultismo, na filosofia, na literatura e em temas que resgatem a ancestralidade, como as runas, por exemplo.
Isso faz com que não exista uma temática padrão para os grupos de neofolk. Tanto que é possível um grupo falar em uma letra sobre o Lord Byron e outro falar sobre os vikings, sem nenhum problema. A idéia é sempre mostrar uma faceta do que seu povo fez e produziu, seja em termos históricos, literários, filosóficos ou mesmo militares.
Isso fez com que, por muito tempo, alguns grupos fossem taxados de nazistas. A bem da verdade, o que aconteceu primeiro foi o fato destes terem se valido de poetas, compositores e filósofos de maneira muito distorcida. Símbolos de poder e de status foram, por muito tempo, usados por Hittler para enaltecer a grandeza alemã. E por usarem das mesmas temáticas que os grupos de neofolk foram taxados injustamente de nazistas.
LIGAÇÃO COM O DARKWAVE
Aparentemente o neofolk tem pouco a ver com esse movimento. Mas olhando bem de perto podemos enxergar algumas semelhanças e até mesmo uma estreita ligação com ele.
O Death In June nasceu das cinzas de um grupo inglês de punk, o Crisis. Esse grupo tinha um direcionamento político muito forte, sobretudo contra as desigualdades raciais e contra o neo-nazismo. Possuía um bom nome na cena inglesa, que nessa época estava de mal a pior. Com a dissolução do grupo, a banda passaria a incorporar a então nascente cena darkwave, onde o lance era experimentar. Vale a pena lembrar que o nome darkwave surgiu bem depois e está colocado aqui apenas para fins de explicação.
Com isso, ao procurarem ritmos para experimentarem, inevitavelmente cairiam em ritmos como o post-punk, que nasceu também do experimentalismo com a música eletrônica, além do ethereal, por ter algumas temáticas em comum, como vista na banda Ordo Rosario Equilibrium.
PAIS DO FOLK METAL?
É possível dizer que o folk metal está dentro de um contexto neofolk. Não deixa de ser um experimentalismo da música regional com um ritmo moderno, no caso, o heavy metal em qualquer uma de suas vertentes. Contudo, suas semelhanças morrem por aí.
É possível notar uma nítida influência de Sol Invictus na sonoridade do Skyclad, até mesmo pelo fato de ambas as bandas flertarem com o folk rock e usarem violinos. Assim como também tanto a vertente folk metal como o estilo neofolk possuem as suas raízes na Inglaterra, o que tornar ambos os movimentos bem próximos.
Entretanto, o folk metal carece de todo o experimentalismo e todo o resgate do contexto folclórico do neofolk. O folk aqui serve apenas como um “tempero” ao som, moldado para um público não acostumado a algo tão hermético e complexo, cheio de simbologias e referências. Tanto que, salvo raros casos, o nome folk metal serve mais como uma propaganda a um tipo de consumidor passivo, que sequer está preocupado se aquilo que escuta é ou não relacionado com a música folclórica.
Claro que exceções existem. O Skyclad começou e continua arraigado no folk, carecendo de popularidade na Europa por conta disso. O pessoal do Fjed reúne músicos de música folclórica e distribui seu som de forma não-comercial, ou seja, por downloads e quase que não podem ser chamados de uma banda de metal propriamente dita. Até mesmo o Vintersorg teve seus momentos de resgate de sonoridades de música regional com seu projeto, o Otyg, que possui um som mais voltado a dança, como é costume da música escandinava de tradição popular.
NEOFOLK NO BRASIL EXISTE?
Se analisarmos em termos de contexto sonoro-musical, a resposta é não. De todas as correntes que vierem da Europa, o neofolk nunca atraiu muita gente e o brasileiro meio que tem vergonha de sua própria cultura. Tanto é verdade que raramente você vai encontrar algum trabalho de darkwave nacional que se valesse de alguma coisa nossa, de ideais e símbolos nacionais.
Mas vamos pensar um pouco, será mesmo que isso é uma verdade? Uma vez que o neofolk não passa de, no final das contas, de música regional acrescida de alguma coisa de música moderna, não seria ele mesmo aquilo que se ouve em artistas como Nação Zumbi e Zeca Baleiro? Ou mesmo em grupos que resgatem a raiz da música nacional, seja ela de que origem for, e mescla com coisas como música eletrônica? Não seria nosso Manguebeat uma forma de neofolk?
Seria possível sim, exceto, talvez, pelo direcionamento. As temáticas sonoras do neofolk tendem a algo mais sombrio, mais introspectivo, mais sinistro, enquanto a temática desses grupos busca algo mais alegre.
GRUPOS DE NEOFOLK
Hoje podemos considerar que o estilo consolidou muitas bandas boas com várias temáticas interessantes. A começar pelo próprio Death In June e seu som experimental. Temos também o Sol Invictus, que mostra uma mescla com o rock progressivo, que influenciaria mais tarde no folk metal. O Corvus Corax incorporaria a música medieval não-sacra a ritmos eletrônicos e com uma roupagem moderna, cheia de energia. O Faun seguiria por esse caminho, mesclando o uso de vários instrumentos acústicos e inusitados. O Qntal usaria de um experimentalismo eletrônico mais forte, sendo até mesmo um tanto quanto fora do estilo em alguns pontos e indo procurar referências no new age. O Ordo Rosario Equilíbrio e o Spiritual Front iriam para o ethereal e o post-industrial. Além disso podermos também encontrar mesclas com o neoclássico, com o darkwave e até mesmo com o dark ambient, que torna o estilo muito rico e muito bom para quem quer ouvir um som inteligente, diferente e que tenha algum propósito artístico.